O projeto de lei para a reforma da previdência foi finalmente aprovado no Senado e esta indo para a etapa final que é a aprovação do Parlamento. Mesmo na Toussaint (uma semana de folga), as manifestações e greves continuam por todo o país e a maior preocupação do governo é a normalização do abastecimento no país, que esta interrompido pela paralisação de refinarias e depósitos de petróleo.
Mas esse post não será dedicado as manifestações, chega delas por enquanto. Essa semana vou falar da infeliz declaração de Jean-Paul Guerlain, um célebre perfumista, no canal France 2 (um dos principais do país). Este questionado sobre a criação do perfume Samsara respondeu: “ Por uma vez, eu trabalhei como um crioulo. Eu não sei se os crioulos sempre trabalharam tanto assim, mas enfim...”. Pronto, polêmica feita. No twitter começou uma campanha de boicote a Guerlain, que nem é mais de Jean Paul (pertence ao grupo LVMH), a marca por sua vez se pronunciou contrária a tais declarações, assim como a ministra da Economia, Christine Lagarde. A cidade de Montpellier renunciou a uma campanha publicitária da Guerlain. As associações SOS Racisme e o Conselho Representativo das Associações Negras (CRAN) querem denunciá-lo e promoveram nesse domingo um protesto em frente a loja Guerlain da Champs-Elysées, o qual atraiu cerca de cem pessoas. E ao Jean Paul só restou pedir desculpas e esperar que as pessoas se acalmem.
Porém, por que essa declaração gerou tanto problema? Primeiro, a palavra usada por Guerlain para se referir aos negros, “nègre”, uma forma depreciativa de chamá-los. Segundo, a França passa por sério problema com os imigrantes africanos, os quais se sentem descriminados pelos franceses e são visto pela população francesa como imigrantes pobres geradores de despesas para o governo e causadores do aumento da violência e de muitos dos problemas sociais que o país enfrenta. Assim, as declarações de Guerlain reavivaram o conflito já existente dentro da sociedade francesa, por isso o envolvimento do governo no caso, o qual viu a necessidade de se pronunciar para evitar que tais declarações sejam generalizadas e se transformem em manifestações violentas. Terceiro, não é a primeira vez que Jean Paul dá declarações polêmicas, da última vez, interrogado sobre a utilização de mão de obra clandestina em suas plantações em Mayotte, ele disse: “Já se sabe que aqui a mão de obra clandestina é um mal endêmico".
Dica para o Jean: shhhhhhh!! Aprenda com a Weslian Roriz e evite pronunciamentos ao vivo.
Saiba mais:
http://www.lemonde.fr/societe/article/2010/10/22/montpellier-boycotte-guerlain-apres-les-propos-discriminatoires-de-l-ancien-parfumeur_1430112_3224.html